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domingo, 1 de junho de 2008

SÍNDROME DE BURNOUT NOS ENFERMEIROS

A profissão de Enfermagem, desde a sua génese, está intimamente ligada ao conceito de “cuidar”, noção esta que está relacionada concludentemente com a ideia de sobrevivência das pessoas. E salientando o marco da Enfermagem Florence Nightingale, o nosso objectivo primordial é: “Pôr o doente nas melhores condições para que a natureza possa actuar” (Ribeiro et al., 1996).

Não obstante, o objectivo da Enfermagem é a promoção, conservação e restabelecimento da saúde, dando ênfase especial às componentes biológica, psicológica, sociológica e cultural, tendo sempre o absoluto respeito pelas necessidades e direitos da pessoa a quem se presta cuidados de saúde (Brunner, 1983).

Segundo Martins (2006), para além deste notável papel do Enfermeiro perante a comunidade, é relevante referir que devido à evolução técnica e ao conhecimento científico (desde o início do sec. XX), os Enfermeiros passaram a acumular uma multiplicidade de papéis, tais como: o de gestor da unidade de cuidados, o de apoio à pessoa doente/saudável e da parceria com o médico na prestação de cuidados aos doentes que acorrem aos serviços da equipa de saúde.

No entanto, neste amplo espectro de funções que o Enfermeiro tem que exercer, segundo Lopes (1997), sempre foi cedido um certo “espaço de poder”, tratando-se entretanto de um poder virtual, dado que havia sempre alguém para controlar esse poder, mesmo que de uma forma ilusória, por isso nós os Enfermeiros ocupamos sempre um papel capital em qualquer Instituição de Saúde, mas ocupando sempre o lugar da retaguarda…

Assim torna-se fácil compreender a problemática da profissão de Enfermagem, da qual se diz ser uma submissão consentida, que se vê confrontada com situações difíceis e perante as quais não pode deter-se a pensar em relação de poder, de autonomia e de status, devendo antes agir.

Mas no entanto, não faltará Enfermeiros que na impotência de agir, vão cedendo e portanto, aglomerando factores que poderão levar: desmotivação, insatisfação profissional, absentismo, rotação e até mesmo tendência a abandonar a profissão e consequentemente este conjunto de sintomas poderão chamar-se Síndrome de Burnout.


SÍNDROME DE BURNOUT NOS ENFERMEIROS


“Um em cada quatro enfermeiros apresenta burnout no trabalho…”
Queirós (2005)

A concepção de Burnout despoletou nos Estados Unidos em meados dos anos 70, para explicar o processo de deterioração nos cuidados e atenção profissional nos trabalhadores de organizações.

Segundo Silva (2006), não existe um consenso quanto à definição desta síndrome, no entanto, não há dúvida que aparece no indivíduo como uma resposta ao stress laboral.

Em 1974/75, Herbert Freudenberg observou que muitos dos voluntários com quem trabalhava em unidades de saúde, ostentavam uma perda gradual das emoções, da motivação e do empenhamento acompanhado de sintomas físicos e mentais, notando um específico estado de exaustão. Tratava-se, segundo Freudenberg, de gente idealista, que acabava cansada, desesperada, e que no final careciam de mais ajuda do que aqueles a que cuidavam (Queirós 2005).

Para assinalar este particular estado mental de exaustão, Freudenberg, utilizou uma nomenclatura que era habitualmente empregue quando pretendia referir-se ao efeito crónico de abuso de drogas, o burnout (Queirós 2005).

Burnout, segundo Queirós (2005), é uma nomeação que pode ser representada por falha, “desgaste por fora”, queimado por fora, exaustão por gastos excessivos de energia, força ou recursos, ou por estoiro.

A sintomatologia aparece, na década de 80, em grupos profissionais que à partida, não se imaginaria “grupo de risco”, pois tratava-se de profissionais com tarefas consideradas vocacionais e aparentemente gratificantes para os próprios, tanto a nível pessoal como social.

Em estudos realizados sobre stress em profissionais, foram obtidos como resultados, que as profissões mais afectadas pela síndrome são: Enfermeiros, Professores, Polícias.

São inúmeros os autores que consideram que os Enfermeiros merecem uma especial protecção face à quantidade de agentes diários indutores de stress, e citando Queirós (2005):
- A proporção de doentes que estes devem atender, de forma que quanto mais doentes, menor satisfação (Maslach e Pines, 1977);
- Escassez de pessoal que influencia directamente a qualidade da assistência que se oferece (Jones, 1987);
- A possibilidade de cometer erros com consequências potenciais e reais para os doentes (Porter, et al., 1987);
- Falta de participação na tomada de decisões sobre temas profissionais e laborais;
- Desconhecimento dos problemas dos trabalhadores por parte da administração.

Segundo Vives (1994), citado por Queirós (2005) é possível associar ao stress entre os enfermeiros, os seguintes factores:
- Ambientais: tipo de unidade e serviço e condições físicas; estado dos pacientes e tipo de cuidados; sujeição pessoal a perigos físicos; exigências de preparação e especialização;

- Relacionais: más relações com superiores, subordinados e colegas; receber ordens contraditórias; falta de confiança e restrição da autonomia pessoal; falta de informação médica;

- Organizativos e burocráticos: má organização e má distribuição de tarefas; excessiva carga de papéis a preencher; horário inflexível e sobrecarregado; aumento de responsabilidades administrativas sem recompensa por isso;

- Profissionais e inerentes ao desempenho: percepção de não estar preparado profissionalmente; medo da morte; constante lidar com o sofrimento e morte dos outros; medo de errar; pacientes agressivos, exigentes e não colaborantes; tarefas ingratas, pesadas e repetitivas; tarefas ambíguas e conflituosas; promoção excessiva ou insuficiente; ambições profissionais frustradas; vencimentos baixos;

- Relacionados com a pressão e exigência: escassez de pessoal; solicitação para vários sítios ao mesmo tempo; imposição de prazos; pouco tempo para as obrigações mais gratificantes; cumprir ordens de mais que uma pessoa ao mesmo tempo; pressão e exigências dos familiares.

A carência de realização pessoal no trabalho constitui-se como a tendência dos profissionais a avaliar-se negativamente e, de forma especial, essa avaliação negativa afecta a habilidade na realização do trabalho e na relação com os utentes.

O quadro clínico da Síndrome de Burnout costuma obedecer à seguinte sintomatologia, segundo Ballone (2006):
- Manifestações emocionais: falta de realização pessoal, tendências a avaliar o próprio trabalho de forma negativa, insatisfação profissional, sentimentos de vazio, esgotamento, fracasso, impotência, baixa auto-estima; frequente irritabilidade, inquietação, dificuldade de concentração, baixa tolerância à frustração, comportamento paranóide e/ou agressivo para com os clientes, companheiros e para com a própria família.

- Manifestações físicas: Como qualquer tipo de stress, a Síndrome de Burnout pode resultar em Transtornos Psicossomáticos. Estes, normalmente referem-se à fadiga crónica, frequentes cefaleias, problemas com o sono, úlceras digestivas, hipertensão arterial, taquicardias, e outras desordens gastrointestinais, perda de peso, dores musculares e de coluna, alergias, etc.

- Manifestações comportamentais: probabilidade de condutas aditivas e esquivas, consumo aumentado de café, álcool, fármacos e drogas ilegais, absentismo, baixo rendimento pessoal, distanciamento afectivo dos clientes e companheiros como forma de protecção do ego, aborrecimento constante, atitude cínica, impaciência e irritabilidade, sentimento de impotência, desorientação, incapacidade de concentração, sentimentos depressivos, frequentes conflitos interpessoais no ambiente de trabalho e dentro da própria família.

No entanto é possível prevenir a ocorrência desta síndrome, utilizando, segundo Queirós (2005), três estratégias: no plano individual, no apoio social e métodos institucionais (organizacionais).

No plano individual, coloca-se a possibilidade de obtenção de frequentes períodos de férias, manter uma adequada auto-estima e não ter pressa de atingir determinados objectivos, resumidamente, tentar que o trabalho não altere o processo da vida normal e desenvolver estratégias para encarar o trabalho de forma positiva.

A nível do apoio social, para além do papel preponderante da família, amigos, colegas, é referido o papel de grupos de apoio internos e externos à organização que podem ajudar a avaliar correctamente as conjunturas.

A nível das organizações, o incentivo verbal reconfortante e de incentivo pode apresentar-se como uma base capital para melhorar as capacidades de cada indivíduo. Para além disso, o apoio informal dos colegas, supervisores, chefes, pode ajudar a simplificar as percepções que o indivíduo tem das suas capacidades para lidar com as situações. Assim como o trabalho em equipa pode ajudar a atenuar as possíveis atitudes negativas e levar a uma melhor percepção das dificuldades que os perturbam.

CONCIDERAÇÕES FINAIS

Podemos entender Burnout como o resultado de uma interacção negativa entre o local, a equipe de trabalho e os utentes.
Fica clara a ponderação do bem-estar e a saúde do indivíduo no trabalho, pois é no trabalho que se passa a maior parte do tempo. A qualidade de vida está directamente relacionada com as carências e expectativas humanas e com a devida satisfação destas.
Perante isto, torna-se relevante elucidar os Enfermeiros para que não abdiquem do seu espaço bem nobre e merecido, com devido reconhecimento e respeito de todos os profissionais de saúde e sociedade em geral.
Assim sendo, não obstante tudo o que foi referido, remato com a uma mensagem imprescindível à introspecção de todos os Enfermeiros citando Sartre... "ninguém tem culpa do que fizeram de nós, mas todos somos responsáveis por aquilo que fizermos com o que fizeram de nós" (Lopes, 1997)।


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RIBEIRO, L.F.; REBELO, M.T.; BASTO, M. L.; (1996);O texto e o contexto nas tendências de enfermagem; In: Revista Portuguesa de Saúde Pública, (4): pp.25-29.
BRUNNER, L. (1983); Enferméria médico-quirúrgica. México: Interamericana.
MARTINS, Mª Conceição (2006) – Situações indutoras de stress no trabalho dos enfermeiros em ambiente hospital; In: www.ipv.pt
LOPES, Pereira (1997); Formação em Enfermagem e Cidadania. Enfermagem em Foco, SEP, (26): pp.37-42.
QUEIROZ, Paulo; (2005); Burnout: no trabalho e conjugal em enfermeiros portugueses; 1ª ed. ; Edições Sinais Vitais;
SILVA, Flávia; (2006); Burnout: Um Desafio à Saúde do Trabalhador; In: http://www.2.uel.br/
BALLONE, GJ (2006) – Síndrome de Burnout – In: PsiqWeb Psiquiatria Geral

UNIÃO AOS ENFERMEIROS

Caros colegas,

Infelizmente na nossa sociedade actual, a enfermagem ainda é considerada uma segunda opção à medicina. O primeiro passo para que a nossa profissão seja cada vez mais enaltecida, é ser exercida por pessoas que gostam efectivamente desta profissão e que nela estão presentes de alma e coração. Este é o maior segredo para criar logo à partida uma classe unida, visto que à priori os objectivos serão os mesmos.

No entanto, não é preciso estarmos muito atentos para verificarmos que a nossa classe, em Portugal, não aposta o suficiente em si própria, nomeadamente ao nível da investigação e na elaboração de livros técnicos, para a contribuição do progresso das ciências de Enfermagem. Porquê? Talvez porque falte aos enfermeiros portugueses a garra e a coragem para tornarem públicos os seus trabalhos, os seus pensamentos, as suas dúvidas…

À uns tempos atrás fui a um curso sobre o “Pé Diabético”, onde não se viu um único prelector enfermeiro, porquê? Foi um curso organizado por um serviço de um hospital, onde existe várias classes de profissionais de saúde, e onde por acaso, até os enfermeiros (mais uma vez) tem um papel de parceria com os outros profissionais, e então porque é que nenhum enfermeiro se dispôs a ser orador neste curso para ensinar o papel fundamental que este tem numa consulta de pé diabético? Foi por não saber? Claro que não, apenas fazem o seu trabalho bem, mas nem sequer se preocupam em dividir com os colegas para que estes também saibam.

Não me interessa descobrir que algo funciona bem e é excelente para a enfermagem se o guardar apenas para mim, a caminhada solitária não tem futuro viável.

A desculpa de pouco incentivo em Portugal, já não chega, o que importa é a vontade de cada profissional tem em se empenhar no exercício da sua função e querer contribuir para a qualificação da Enfermagem. Isto leva-nos a grande questão que nos persegue, devendo no entanto ser enfrentada, que é o facto de os próprios enfermeiros na sua grande maioria não saberem efectivamente quais as suas funções e qual o seu papel na equipa de saúde.

Já lá vai o tempo em que ser enfermeiro era apenas uma pessoa que faz pensos e dá “picas”, colegas, SOMOS ENFERMEIROS, os gestores dos cuidados de saúde, não podemos desprezar a importância capital do nosso papel e para isso vamos criar conflitos para lutar pelo nosso espaço? Não! Não é assim que se prova o que valemos, é através do saber-ser, saber-estar e saber-fazer.

Quando ainda estamos na faculdade, no curso base, já se sente a falta de união entre aqueles que vão ser colegas de equipa para juntos cuidar de uma população. Como é que é possível, pessoas com os mesmos objectivos profissionais não se consigam unir para juntos afirmar a enfermagem? Não vamos criar ilusões, sozinhos jamais poderão conseguir alguma coisa, a caminhada isolada não tem futuro exequível.

Vamos investir, vamos unir-nos à equipa com quem trabalhamos e vamos escolher um tema que achamos que não está bem ou que há carência na enfermagem, e a partir daí vamos investigar provar por A+B que a Enfermagem existe, tem objectivos próprios, tem base científica para justificar a sua importância e não são apenas pontes de ligação com objectivos que se confundem com os da equipa multidisciplinar.

Quais são efectivamente as nossas funções? Quais os nossos objectivos? Qual o nosso espaço na equipa de saúde? Tudo isto são questões muito mal respondidas, mal explicadas, tudo não passa de ideias ténues que um ou outro de nós questiona de vez em quando mas como não encontra resposta vai vivendo com o lema “à terra onde fores ter faz como vires fazer”. Não pode ser, temos que ter estas questões bem resolvidas para que a nossa ciência seja uma ciência bem definida e que não se mantenha na penumbra de outras disciplinas da saúde.

Vamos arregaçar as mangas, cada um nos seus serviços, juntamente com a sua equipa (de enfermagem) parem para pensar na resposta a estas questões e elaborem estudos – mas não só para currículo – pertinentes para a nossa evolução, para que nos permita ter objectivos próprios, autonomia, esteja bem definido onde começa as minhas funções e acaba, com o início de outra disciplina.

Hoje em dia vivemos numa sociedade egocêntrica, desmotivada, no qual o futuro é apenas uma ténue miragem. Portanto colegas, não deixem que isso aconteça, não caiam na rotina, agarrem com força as ideias que vos vai na alma e não pensem duas vezes em passá-las para papel, transmitam ao mundo, partilhem connosco o futuro da enfermagem, tenho a certeza que juntos conseguiremos tornar a nossa profissão mais respeitada e valorizada por toda a equipa multidisciplinar.